Um belo dia, nossos ancestrais começaram a desenhar, nas paredes das cavernas, aquilo que viam e faziam. Graças a isso, hoje temos uma ideia de como eram as coisas naquele tempo: a humanidade vivia em tribos que sobreviviam a partir da colaboração dos indivíduos que se uniam para caçar, coletar e se defenderem.

Foto de Chico Ferreira, 2010.
Eu imagino que deva ter sido um evento muito surpreendente quando o primeiro indivíduo pessoa percebeu que desenhara algo. Ele poderia estar em um momento de descanso, talvez, brincando com um pedaço de carvão, fazendo rabiscos livres no chão ou na parede da caverna, até que, de repente, algum desses rabiscos começou a se parecer com alguma coisa ele realmente conhecia, provavelmente algum bicho.
Então, é possível, que ele tenha ficado super empolgado com a novidade, de forma que passou, então, a fazer mais rabiscos, desta vez com a plena intenção de representar coisas que conhecesse, e a mostrar esses desenhos para outras pessoas que, também empolgadas, começaram a fazer seus próprios desenhos e mostrar para outros colegas e assim em diante, feito um esquema de pirâmide.
O tempo passa e a brincadeira de representação (desenhar algo que eu conheço) evolui e se torna um método de comunicação (desenhar algo que nós conhecemos). Os desenhos passam a transmitir mensagens mais elaboradas, como histórias, instruções e o registro de datas e quantidades. No Egito Antigo, por exemplo, toda uma linguagem foi criada baseada em desenhos: os hieróglifos.

Os desenhos, até então, com formas complexas (animais, pessoas, objetos), passam a adquirir formas mais simples, com linhas e traços, que obtiveram a denominação de letras que, por serem mais fáceis de desenhar, permitiu que cada vez mais pessoas aprendessem a escrever. Logo, diferentes alfabetos surgiram em diferentes povos da humanidade.




Saiba mais em:
- Escrita, por Joshua J. Mark.
- A alfabetização sob o ponto de vista histórico e metodológico, por Reginaldo José Barboza.
Império romano
A língua portuguesa começa com os povos latinos que se estabeleceram na península itálica por volta do século VIII a.C.. É neste território que surge a aldeia de Roma que, com o passar dos tempos, se torna uma grande cidade, centro de um poderoso império que domina aquela região e começa a invadir territórios vizinhos para expandir seu poder e influência.
Um dos territórios invadidos pelo império romano foi a Península Ibérica, entre os anos 197 a.C. e 400 d.C., no território onde hoje é situado os países da Espanha e Portugal.

Quando o império romano invadia um território, não levavam consigo apenas terror e destruição àqueles que resistiam à ocupação, levavam também o seu idioma (latim) que, mesmo se tornando o idioma dominante, era sempre influenciado pelas palavras e expressões do idioma que já estava presente naquele local.
Além disso, conforme o tempo passava, novas palavras surgiam enquanto outras desapareciam, sem contar nas gírias, modos de expressões e sotaques. A língua vai, naturalmente, se transformando ao longo do tempo, ficando bem diferente de quando começou. Assim, do latim surgiram os idiomas italiano, francês, espanhol e o que nós usamos, o português.
Confira o vídeo a seguir com trechos de telejornais de países cujo idioma derivaram do latim e ouça as diferenças e semelhanças que um possui com o outro.
Saiba mais em:
- Roma antiga, por Brasil Escola.
- Como, quando e onde nasce a língua portuguesa, por Ataliba T. de Castilho.
Colonialismo
Os impérios europeus descobrem que o mundo é muito maior do que imaginavam e passam a navegar pelos mares e oceanos em busca de novos territórios para explorar.
O território brasileiro, já ocupado por uma vasta população indígena, foi invadido pelos colonos portugueses no ano de 1500. Além de reduzir a população local à uma fração do eram, também impuseram o idioma que falavam, o português.
Mas, como vimos antes, o idioma colono não deixa de receber influências dos idiomas locais, como o Tupi, o Guarani e o Yanomami. Temos, hoje, em nosso vocabulário, palavras como:
tocaia | catapora |
peteca | mingau |
carioca | Paraíba |
Posteriormente, a língua portuguesa passou a receber influências de línguas africanas que chegaram junto com os escravos, raptados para serem forçados a trabalhar aqui, principalmente em fazendas de café e cana-de-açúcar. Temos em nosso vocabulário, por exemplo, as palavras:
moleque | fubá |
macaco | bagunça |
quitanda | caçula |
Depois, o português brasileiro começou a ter influência de idiomas de vários outros países conforme o país recebia um grande número de imigrantes após a Princesa Isabel abolir a escravidão e iniciar a chegada de grandes indústrias ao país.
Hoje, o português que falamos aqui no Brasil é bem diferente do que é falado em Portugal e nos outros 7 países de língua portuguesa espalhados pelo mundo (a maioria no continente africano).
Mas também não é um português assim tão diferente a ponto de você não conseguir entender nada. Na verdade, é bem provável que você consiga entender quase tudo, mas houve muitos processos de transformação da língua conforme os anos se passaram e que continuam até hoje.
Veja o vídeo a seguir com trechos de telejornais de diferentes países de língua portuguesa e ouça as diferenças e semelhanças dos sotaques.
A língua é viva. Inclusive, o português que nós usamos hoje, não é exatamente o mesmo de nossos avós, que também não foi exatamente o mesmo dos avós deles. Novas palavras e expressões surgiram, outras desapareceram, sem contar o uso de gírias, jargões, modos de expressão e sotaques regionais.
Saiba mais em:
- Dez palavras originárias de línguas indígenas que fazem parte do nosso dia a dia, por Exame.
- Vocabulário brasileiro – Culturas africanas influenciaram nosso idioma, por Heidi Strecker.
Adendo: a restrição da alfabetização
Por muito tempo, ler e escrever eram práticas restritas a membros de classes privilegiadas das sociedades. Só depois que passou a ser incentivado para todos, algo para se aprender durante a infância.
No Egito antigo, por exemplo, haviam os escribas, pessoas ligadas ao Faraó responsáveis por escrever os principais fatos da sociedade, a maioria desses fatos ligado à vida do próprio Faraó ou à religião que praticavam. A maior parte da população, no entanto, não sabia ler e escrever.
No império romano, ler e escrever foi comum apenas entre os membros do governo, dos tribunais e do exército, que já utilizavam documentos escritos em suas burocracias, como para o envio de ordens, registro de leis e, até, certidões de nascimento. A maior parte da população, no entanto, permanecia analfabeta.
Na Grécia, cuja cultura tinha um apelo maior pela educação, tanto física quanto intelectual, a prática da leitura e da escrita resistiram aos efeitos do tempo. Você pode adquirir hoje, por exemplo, uma cópia do livro “A República”, escrito por Platão por volta do ano 380 a.C. e muitas outras obras daquela época. Contudo, a educação formal grega era voltada principalmente para os homens não escravos. Se você fosse mulher ou escravo, sinto muito…
Na idade média, quem sabia ler e escrever pertencia ou à nobreza ou ao clero, as duas camadas da sociedade que detinham a maior parte do dinheiro e influência. O clero, em especial, controlava os textos religiosos, até então escritos à mão. A plebe, maior parte da população, permanecia analfabeta.
Por volta de 1440, o alemão Johann Gutenberg inventa a prensa tipográfica, que acaba reduzindo drasticamente o tempo de produção de uma página de texto e, desta forma, um maior número de livros começou a ser produzido, aumentando gradativamente o número de leitores e, consequentemente, de escritores. A demanda foi tanta que originou um verdadeiro mercado literário, o que possibilitou o surgimento mais escritores, editoras, jornais, revistas e, consequentemente, de mais leitores.
Saiba mais em:
- Egito Antigo, por Filipe Oliveira.
- Invenção da Imprensa, por Cláudio Fernandes.