O construtivismo e a educação infantil

O que é o Construtivismo?

O construtivismo é uma abordagem educacional que enfatiza o papel ativo da criança na construção do seu próprio conhecimento. Diferente de ser um método fixo, o construtivismo é mais uma filosofia que orienta a forma como a educação e a alfabetização são conduzidas.

Essa abordagem valoriza o respeito pelo desenvolvimento natural da criança e a sua participação ativa no processo de aprendizagem. Em vez de apenas receber informações passivamente, a criança é vista como a protagonista de sua própria educação, engajando-se na construção do conhecimento de maneira dinâmica e pessoal.

O construtivismo pode ser entendido como um “fio condutor” que guia as práticas pedagógicas, promovendo uma educação que respeita e valoriza a autonomia da criança, permitindo-lhe participar ativamente e de forma significativa no seu processo de aprendizagem.

A Criança como Protagonista da Própria Educação

O conceito de tornar a criança protagonista da própria educação pode ser desafiador para alguns, que veem o adulto como detentor do conhecimento e a criança como sem saber nada. No entanto, entender que a criança passa por fases de desenvolvimento é crucial para respeitar seu processo de aprendizado.

Na alfabetização, é importante reconhecer essas fases e adaptar a abordagem educacional a elas. O construtivismo se destaca por valorizar essas fases e ajustar a educação conforme o desenvolvimento da criança.

Assim como a construção de uma casa começa pela base, a alfabetização é a base da educação escolar. Trabalhar com o som das letras, alinhando-o ao que a criança já sabe sobre a fala, facilita a compreensão e aproveita o conhecimento pré-existente da criança. O construtivismo defende essa continuidade, começando com o que a criança já conhece para avançar no aprendizado.

Facilitando a Alfabetização com o Som das Letras

Trabalhar o som das letras ajuda a criança a entender que cada letra possui um som específico, o que facilita a comparação com outras palavras. Por exemplo, ao mostrar o som da letra “C” na palavra “casa”, a criança rapidamente associa esse som a outras palavras que começam com “C”. Esse método construtivista permite que a criança construa seu próprio entendimento ao fazer essas comparações.

Esse processo não apenas torna o ensino mais eficaz, mas também promove uma autoestima positiva na criança. Ao participar ativamente do aprendizado, fazer perguntas e até corrigir o professor com base em seu próprio conhecimento, a criança se torna mais criativa, investigativa e curiosa.

Um exemplo prático desse método é aproveitar o interesse da criança em um tema específico, como o personagem Sonic, para introduzir conceitos de alfabetização. Isso torna o aprendizado mais relevante e engajador para a criança.

No método da Alfabetização Descomplicada, utilizamos diferentes abordagens, como histórias temáticas, projetos com animais e atividades lúdicas como amarelinha e bolha de sabão, para ensinar o alfabeto e tornar o processo de aprendizagem mais divertido e eficaz.

O Impacto do Hiperfoco na Alfabetização

Usar o Sonic com um aluno que tinha hiperfoco no personagem fez uma grande diferença no seu aprendizado. Antes, o aluno não se interessava pelas letras e preferia desenhar o Sonic, mas quando comecei a associar a letra “S” com o Sonic, ele começou a se engajar. Esse método mostrou-se mais eficaz do que tentativas anteriores.

Isso lembra a abordagem de Paulo Freire, que também utilizava palavras e contextos conhecidos pelos alunos para facilitar a alfabetização. Freire trabalhou com trabalhadores do campo no Nordeste, usando termos do seu cotidiano, como “trabalho” e “enxada”. Essa conexão com o conhecimento pré-existente tornou o aprendizado mais acessível e relevante para eles.

Mas, na alfabetização, também é importante saber introduzir novas palavras à criança de maneira que ela consiga fazer associações com as coisas que já conhece. Por exemplo, ao apresentar o moinho, um objeto antigo e pouco familiar, a criança pode associá-lo a um catavento, que é mais conhecido. Esse processo de associação ajuda a criança a integrar novas informações com seu conhecimento prévio, facilitando a compreensão e a retenção do conteúdo.

A Importância da Conversa na Alfabetização

As crianças adoram conversar, e essa interação é essencial para o aprendizado. Permitir que a criança faça perguntas e também responda a perguntas ajuda na elaboração das ideias. Quando a criança precisa explicar algo, ela desenvolve uma compreensão mais profunda, o que facilita a escrita de frases, parágrafos e textos posteriormente.

Esse método construtivista é uma grande mudança em relação ao antigo modelo de ensino, onde as crianças apenas ouviam e decoravam informações. Hoje, a sala de aula é muito mais participativa e interativa. As crianças podem trabalhar em grupos, sentar em círculos e discutir tópicos, tornando o aprendizado mais dinâmico e envolvente.

Além disso, a abordagem atual permite que as crianças ensinem umas às outras. Quando uma criança explica algo para outra, que está no mesmo nível conceitual, muitas vezes a compreensão é mais eficaz. Esse método promove uma aprendizagem colaborativa e significativa, quebrando a antiga visão de que o professor é o único detentor do conhecimento.

A Interação e Disciplina na Abordagem Construtivista

É fascinante ver as crianças interagindo e ensinando umas às outras com tanta paciência. Quando uma criança corrige a outra e explica seu ponto de vista, isso cria uma dinâmica de aprendizado incrível e colaborativa.

Há um equívoco comum de que salas de aula construtivistas são desordenadas e sem disciplina. Na verdade, o construtivismo promove a participação ativa dos alunos, mas isso não significa falta de regras. As crianças são envolvidas na construção e no cumprimento das regras, e muitas vezes se lembram e cobram umas às outras sobre o que é permitido.

Portanto, a abordagem construtivista não se relaciona com bagunça ou desorganização, mas sim com uma participação ordenada e organizada, onde as regras são respeitadas e compreendidas pelas crianças.

O construtivismo se aplica somente à alfabetização infantil?

Uma crítica comum ao construtivismo é que ele tende a ser mais aplicado nas séries iniciais, como o Ensino Fundamental 1, mas perde força conforme os alunos avançam para o Ensino Fundamental 2 e as disciplinas se tornam mais específicas. Concordo que o construtivismo pode diminuir ao longo da jornada escolar.

Isso ocorre porque o Ensino Fundamental 2 costuma ter um currículo mais estruturado e rígido, e os professores frequentemente têm menos liberdade para adotar métodos construtivistas. A formação desses professores também não costuma enfatizar abordagens variadas para o ensino de um mesmo conteúdo, o que limita a aplicação contínua do construtivismo.

Apesar das limitações, o construtivismo poderia enriquecer a aprendizagem no Fundamental 2, pois os alunos, com habilidades cognitivas mais avançadas, poderiam se beneficiar da participação ativa e da discussão elaborada. Infelizmente, poucas escolas adotam essa abordagem devido a essas dificuldades.

A Experiência de Ensinar e Aprender de Forma Ativa

Recentemente, minha irmã comentou algo interessante sobre a abordagem da escola dela: uma vez por semana, um aluno é convidado a dar uma aula de ciências, aproveitando sua afinidade com a matéria. Isso não só envolve o aluno, como também permite que ele elabore e apresente o conteúdo, tornando a experiência de ensino mais significativa.

Esse método também pode ser aplicado em grupo ou na turma toda, promovendo discussões e pesquisas ao invés de simplesmente transmitir o conteúdo pronto. Quando os alunos pesquisam e exploram o material por conta própria, eles frequentemente entendem o assunto de forma mais profunda e retêm o conhecimento melhor do que apenas decorando para provas.

Além disso, quando o aluno consegue aplicar o conteúdo na vida prática, a aprendizagem se torna ainda mais impactante e relevante. Esse processo não só ajuda na compreensão do material, mas também na sua aplicação prática, tornando o aprendizado mais valioso e duradouro.

A Importância da Autonomia e Confiança na Aprendizagem

A autonomia e a confiança são fundamentais para o aprendizado. Crianças confiantes tendem a aprender melhor do que aquelas que enfrentam dificuldades e frustrações constantes, especialmente quando se deparam com erros. Uma abordagem que valoriza a autonomia permite que a criança veja os erros como oportunidades de aprendizado e ajuste, em vez de se sentir desmotivada.

É crucial mudar a percepção sobre os erros, especialmente na alfabetização. Muitas vezes, a escrita das crianças é corrigida rigidamente, sem considerar que elas estão em um processo de desenvolvimento. Ao usar métodos que respeitam o nível atual da criança e promovem a correção colaborativa entre pares, o aprendizado se torna mais significativo. A prática de ditados pode ser enriquecedora quando é feita de forma a permitir que as crianças discutam e aprendam com os colegas, em vez de se sentirem desencorajadas pelos erros.

Como Lidar com os Erros e a Importância da Participação

Quando uma criança comete um erro, não uso o termo “errado”. Em vez disso, peço que ela leia o que escreveu e observe por si mesma. Por exemplo, se uma criança escreveu “pola” ao invés de “bola”, ela verá e corrigirá a si mesma. Se a criança não percebe o erro, forneço orientação para ajudá-la a entender a diferença, promovendo uma mudança gradual na compreensão.

Além de promover a confiança e a autonomia, a participação ativa é crucial nas abordagens construtivistas. Crio um ambiente de sala de aula animado e produtivo, onde as crianças se sentem motivadas a explorar sua criatividade e empenho. Esse engajamento contribui para uma alta autoestima e uma visão positiva de si mesmas.

A interação com a professora também é enriquecedora. As crianças frequentemente veem a professora como uma figura quase mágica, e a reação delas ao encontrar a professora fora da sala de aula, como no mercado, mostra como elas percebem a professora como parte integral de seu mundo escolar. Esse relacionamento de confiança e abertura é fundamental para tornar a criança protagonista de seu processo de aprendizagem.

O principal benefício de adotar uma abordagem construtivista é criar crianças que não têm medo de errar.

Essas crianças, acostumadas a participar ativamente e a expressar suas opiniões, tendem a se tornar adultos mais confiantes e capazes de fazer a diferença em suas áreas de atuação. Em contraste, crianças que são ensinadas a simplesmente aceitar o conteúdo sem questionar podem ter mais dificuldades em se destacar e influenciar positivamente a sociedade no futuro. Portanto, preparar as crianças para serem proativas e seguras em suas opiniões é fundamental para seu desenvolvimento como cidadãos impactantes e inovadores.

Pauta Pedagógica

Por Rosane Gonçalves e Fellype Moreira

O podcast parceiro das professoras e professores da educação infantil de todo o Brasil.

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