Especialistas como o professor Luiz Carlos Faria da Silva destacam que a formação dos professores nas faculdades de pedagogia nem sempre contempla as melhores técnicas para alfabetizar. Ele argumenta que muitos educadores estão sendo formados sem o domínio de métodos eficazes, o que acaba refletindo nas dificuldades que muitas crianças enfrentam ao aprender a ler e escrever.
O que é o método fônico de alfabetização?
O método fônico se destaca como uma das abordagens mais simples e eficientes para o entendimento das crianças. Trabalhar o som das letras e o ponto de articulação – como as letras são posicionadas na boca durante a emissão de um som – é essencial para que a criança compreenda a diferença entre sons semelhantes.
Ao ouvir e entender um som, a criança é capaz de traduzi-lo em letras, iniciando assim o processo de leitura e escrita de forma natural e significativa. Investir na alfabetização pelo som é, portanto, investir em uma base sólida para o aprendizado das crianças.
O Processo Natural da Escrita: Entendendo as Trocas de Letras na Alfabetização
Durante o processo de alfabetização, é comum que as crianças escrevam palavras de acordo com a forma como as escutam. Por exemplo, uma criança pode escrever “casa” com a letra “K” em vez de “C”. Essa troca ocorre porque, foneticamente, os sons são semelhantes. Embora tecnicamente esteja errado, esse tipo de “erro” é admissível, pois faz parte do desenvolvimento natural da criança.
Ler e escrever estão diretamente relacionados ao som das letras, e a percepção dos pontos de articulação – como as letras são formadas na boca – é fundamental para diferenciar letras que produzem sons parecidos. Um exemplo disso são as letras “F” e “V”, que compartilham o mesmo ponto de articulação; a diferença está no fato de que o “F” é surdo, enquanto o “V” é sonoro. Essa distinção pode ser ensinada de maneira simples, como mostrando à criança que o “V” faz as cordas vocais vibrarem, enquanto o “F” não.
A confusão entre letras, como trocar “F” por “V”, não deve ser vista como um erro, mas como parte do processo de aprendizado. A interferência do professor para ajudar a criança a perceber essas diferenças é crucial para que ela avance no seu desenvolvimento. Por exemplo, ao perceber que a criança está trocando essas letras na escrita, o professor pode mostrar a diferença de uma forma prática, colocando a mão na garganta para que a criança sinta a vibração ao pronunciar o “V”. Esse tipo de descoberta ajuda a criança a corrigir rapidamente as trocas na escrita.
Normalmente, as crianças em fase de alfabetização já pronunciam corretamente esses fonemas, a menos que haja uma necessidade específica de fonoaudiologia. Portanto, o papel do educador é garantir que essa pronúncia correta também se reflita na escrita, ajudando a criança a superar essas pequenas confusões e a progredir no seu processo de alfabetização.
O Processo Natural da Escrita: Da Fala à Letra
Muitos pais e educadores se perguntam se é difícil para as crianças, que já sabem falar, fazer a conversão da fala para a escrita. No entanto, a escrita é um processo que se desenvolve desde muito cedo. Basta observar uma criança de três anos: se você pedir para ela escrever algo, ela provavelmente fará rabiscos, bolinhas, ou até mesmo desenhará algo que tem significado para ela. Isso demonstra que a escrita já está presente no ambiente da criança desde os primeiros anos de vida.
A partir desse ponto, o papel da escola é levar a criança a entender que a escrita envolve letras, não apenas símbolos ou desenhos. Esse processo não precisa ser algo que se inicia apenas na fase de alfabetização; ele pode acontecer ao longo de toda a vida escolar da criança. Ela rapidamente percebe que, para escrever, são necessárias letras, e muitas vezes começa com as letras do próprio nome, algo que muitas famílias ensinam desde cedo.
A transição da fala para a escrita é, na verdade, bastante simples e fluida. Utilizando o som das letras e a observação dos pontos de articulação, os professores podem guiar a criança a entender como os sons que ela já conhece se transformam em palavras escritas. O nome da criança, por exemplo, pode ser um ponto de partida: se ela se chama Sara, o professor pode mostrar outras palavras que começam com o mesmo som.
Esse processo de alfabetização é muito lógico e funcional, e coloca a criança como protagonista. Ela se sente orgulhosa quando consegue acertar, quando percebe que está escrevendo e quando consegue ler o que escreveu. A dificuldade em ensinar a leitura e a escrita só surge para aqueles que não utilizam essa abordagem natural e coerente.
Embora a fala seja aprendida de forma natural no ambiente familiar, a leitura e a escrita, apesar de serem diferentes, podem ser igualmente simples de aprender. A chave está em utilizar o som das letras, algo que a criança já conhece desde o útero, e associá-lo ao símbolo correto. Assim, a alfabetização se torna um processo natural e eficiente, sem grandes dificuldades.
Alfabetização Simples e Natural: Aproveitando o Conhecimento Prévio das Crianças
Um dos principais desafios da alfabetização tradicional é a abordagem focada em gramática e regras antes de aproveitar o que a criança já sabe. Muitas vezes, as crianças chegam à escola já sabendo falar, mas em vez de utilizar esse conhecimento prévio, o ensino tradicional impõe a ordem do alfabeto e outras regras gramaticais que podem não fazer sentido para elas naquele momento.
Na abordagem de alfabetização mais prática, como o método fônico, o foco está em mostrar à criança que aquilo que ela já fala pode ser convertido em grafias. Por exemplo, ao trabalhar com o nome “Sara”, o som “Ssssssssss” é associado à letra “S”, sem a necessidade de nomeá-la de imediato. O importante é que a criança faça a conexão entre o som que já conhece e o símbolo que o representa.
Além disso, o método parte de histórias para introduzir palavras, e a partir dessas palavras, as primeiras letras são destacadas para que a criança associe o som ao símbolo. Ao invés de ensinar o nome das letras ou a ordem do alfabeto, a ênfase está na funcionalidade das letras no contexto da fala da criança. Por exemplo, quando a criança aprende que a letra do “Sara” também aparece em “sala”, ela começa a entender que essas palavras compartilham o mesmo som inicial.
Na prática, a criança se torna protagonista do seu aprendizado, fazendo associações naturais entre o que já conhece e as novas informações. Na sala de aula, referências visuais ajudam a reforçar essa conexão. Quando a criança quer escrever “sola”, ela pode lembrar que o som inicial é o mesmo de “Sara” e buscar a letra correspondente sem precisar saber seu nome ou posição no alfabeto.
Outro ponto importante é que a ordem convencional do alfabeto não é relevante nesse estágio. Em vez disso, as consoantes e vogais são introduzidas conforme aparecem naturalmente nas palavras que a criança já conhece. Por exemplo, ao trabalhar com a palavra “fazenda”, a vogal “A” pode ser introduzida não como uma letra isolada, mas como parte de uma palavra que faz sentido no contexto da história ou da conversa em sala de aula.
Esse método permite que a criança entenda rapidamente as relações entre os sons e as letras, aplicando esse conhecimento tanto na fala quanto na escrita e leitura. A simplicidade e naturalidade dessa abordagem tornam o processo de alfabetização mais acessível e eficiente, aproveitando o que a criança já sabe e integrando novas aprendizagens de forma lógica e prática.

Os Riscos da Correção Precoce na Alfabetização
Um dos maiores riscos de exigir uma escrita correta durante o período em que a criança ainda está aprendendo é que ela pode acabar decorando regras sem realmente entendê-las. Quando a criança decora como se escreve uma palavra, como “pássaro” com dois S, sem compreender o porquê, ela não consegue transferir esse conhecimento para outras palavras semelhantes, como “passeio”. Isso ocorre porque o entendimento das normas ortográficas não foi assimilado, mas apenas memorizado.
Essa falta de compreensão pode ser agravada pela correção precoce, onde o professor cobra da criança uma informação que ela ainda não domina. Essa prática pode desmotivar a criança, levando-a a acreditar que não é capaz, o que pode resultar em insegurança, nervosismo e até choro. A criança pode começar a se comparar com os outros, sentindo-se inferior, o que é prejudicial ao seu desenvolvimento.
Na Alfabetização Descomplicada, buscamos evitar essas armadilhas. Trabalhamos de forma que a criança acredite em sua capacidade, o que transforma completamente sua experiência de aprendizagem. Ao invés de corrigir todos os erros de forma rígida, incentivamos a criança a tentar novamente, sempre reforçando sua autoestima. Se uma criança não consegue escrever corretamente, oferecemos suporte, como pronunciar a palavra e pedir que ela observe os movimentos da boca para identificar o som correto. Esse apoio é temporário e vai sendo gradualmente retirado à medida que a criança ganha confiança. Mesmo quando a criança “erra”, ela tem a oportunidade de aprender com isso e avançar, sempre em seu próprio ritmo.
A confiança que construímos nas crianças é notável. Mesmo quando ainda precisam de ajuda, muitas já demonstram uma forte convicção de que são capazes. Esse é o tipo de autoestima que buscamos cultivar. Quando uma criança se sente segura para tentar, mesmo que erre, ela está no caminho certo para aprender de forma significativa.
Respeitar o ritmo de desenvolvimento de cada criança e a fase em que ela se encontra é essencial para um processo de alfabetização saudável e eficiente.

Pauta Pedagógica
Por Rosane Gonçalves e Fellype Moreira
O podcast parceiro das professoras e professores da educação infantil de todo o Brasil.