Desafios para a alfabetização e letramento das crianças

Nesta semana, dia 08 de Setembro, celebramos o Dia Mundial da Alfabetização, uma data criada pela Unesco em 1967 para destacar a importância social da alfabetização.

Viver em uma sociedade onde o texto está presente em quase todos os aspectos — de documentos e placas a propagandas e embalagens — pode ser extremamente desafiador para aqueles que ainda não dominam a leitura e a escrita. A alfabetização é a chave que abre as portas para a plena participação na vida em sociedade. Mas vai além de simplesmente decifrar palavras.

O verdadeiro desafio está em desenvolver a capacidade de interpretar o que está escrito. Em um mundo cada vez mais digital e conectado, a habilidade de compreender e analisar textos é essencial. As redes sociais têm revelado como a falta de interpretação pode levar a equívocos, reforçando a importância de trabalhar essa competência desde cedo.

Por isso, é crucial que o ambiente alfabetizador promova não apenas a leitura, mas também a interpretação desde a infância. Esse trabalho pode e deve começar ainda em casa, preparando as crianças para enfrentar um mundo repleto de informações. Com a alfabetização bem direcionada, formamos leitores críticos, capazes de compreender o mundo ao seu redor e de participar ativamente da sociedade.

Qual a diferença entre alfabetização e letramento?

Um aspecto fundamental para aprimorar o aprendizado na educação infantil é entender a diferença entre alfabetização e letramento.

A alfabetização refere-se ao processo de desenvolver a habilidade de ler e escrever, uma etapa crucial na formação de qualquer criança. Por outro lado, o letramento envolve o uso competente dessas habilidades no dia a dia, nas funções sociais, aplicando a leitura e a escrita de maneira prática e significativa.

Embora seja comum pensar que o letramento vem após a alfabetização, essa visão pode ser limitada. A ideia de que a aplicação prática da leitura e escrita só acontece depois de se aprender a ler e escrever não considera que o contato com o ambiente escrito e interpretativo começa muito antes. Desde os primeiros anos de vida, as crianças já estão imersas em um mundo repleto de textos, signos e símbolos que ajudam a construir seu entendimento sobre o que as cerca.

Por isso, é importante criar um ambiente favorável ao letramento desde cedo, incentivando a criança a explorar e compreender o mundo ao seu redor. Quando promovemos essa interação inicial com textos, histórias e objetos, estamos preparando o terreno para que, no momento em que a criança dominar a leitura e a escrita, ela já esteja pronta para aplicar essas habilidades em contextos sociais de forma plena e consciente.

Ler e escrever são habilidades fundamentais, mas não suficientes para uma plena participação no mundo. Além de dominar as palavras, é essencial que a criança desenvolva a capacidade de interpretar o que está ao seu redor, adquirindo senso crítico. Com isso, ela se torna capaz de ler não apenas textos, mas também as situações e acontecimentos da vida cotidiana.

Quando começar?

Esse trabalho deve começar antes mesmo da alfabetização formal. Desde cedo, é possível e necessário estimular o senso crítico nas crianças. Ao permitir que elas verbalizem suas opiniões e até discordem, incentivamos o desenvolvimento de convicções fortes e de uma visão própria sobre o mundo. A confiança que uma criança demonstra ao defender sua posição é um reflexo desse processo.

Ao criar um ambiente em que a criança é incentivada a opinar, interpretar e se manifestar, estamos promovendo o letramento em um sentido mais amplo. Essa abordagem, que valoriza a construção do conhecimento e a expressão individual desde os primeiros anos, prepara o caminho para uma interpretação mais profunda e consciente do mundo, algo que infelizmente ainda falta em muitas abordagens tradicionais.

E quais seriam as maiores dificuldades que uma professora pode encontrar quando começa a trabalhar com alfabetização infantil?

Uma das maiores dificuldades enfrentadas na alfabetização infantil é quando uma professora não sabe exatamente o que deve fazer. Torna-se desafiador orientar o desenvolvimento das crianças e promover uma alfabetização eficaz. A ausência de formação prática e direcionada deixa muitas educadoras inseguras, dificultando a aplicação de estratégias eficientes em sala de aula.

Essa lacuna na formação revela um problema maior no sistema educacional. Apesar dos anos de estudo na faculdade, muitas pedagogas se deparam com a realidade de que a verdadeira aprendizagem começa apenas quando entram na sala de aula. Isso cria uma situação preocupante, onde a falta de preparo prático pode comprometer os primeiros anos de ensino, uma fase tão crucial para o desenvolvimento das crianças e formação desta profissional.

Para que a alfabetização seja realmente eficaz, é necessário que as professoras recebam uma formação contínua e atualizada, baseada em experiências práticas e adaptada às necessidades das crianças de hoje. O conhecimento transmitido precisa ser relevante e aplicável, preparado por aqueles que já vivenciaram os desafios da sala de aula e sabem o que realmente funciona. Essa preparação é essencial para que as educadoras possam atuar com segurança e eficácia, promovendo uma alfabetização que faça a diferença na vida dos alunos.

Han? O quê? Não entendi…

Um dos grandes desafios da educação atual é manter o aluno interessado, especialmente em um mundo onde a atenção está fragmentada por conta das telas. A internet, com seu acesso rápido e fácil às informações, trouxe vantagens, mas também problemas. Com tudo pronto e disponível, a criatividade e a elaboração pessoal dos alunos são impactadas. Eles têm à disposição não apenas respostas prontas, mas até mesmo aplicativos de inteligência artificial que fazem o trabalho por eles, tornando o aprendizado menos desafiador e, consequentemente, menos interessante.

As telas, embora fascinantes, atrapalham a vivência natural da infância. Elas criam uma barreira que diminui a paciência, a intuição, e a vontade de aprender coisas novas. No ambiente escolar, isso se torna evidente: crianças que passam muito tempo diante das telas tendem a se desinteressar pelas atividades que envolvem leitura, escrita, e brincadeiras criativas. Quando a tela é retirada, no entanto, elas voltam a se engajar nas atividades típicas da infância, como brincar, criar novas regras para os jogos, e socializar com os colegas.

É essencial que os adultos tenham clareza sobre os efeitos negativos das telas na aprendizagem infantil. Muitas vezes, o único obstáculo para o progresso de um aluno é o tempo excessivo em frente às telas. Ao reorganizar a rotina da criança e limitar o uso desses dispositivos, observa-se um avanço significativo em todos os aspectos do desenvolvimento. A criança volta a ser criança: criativa, participativa, e envolvida com o mundo ao seu redor.

Pauta Pedagógica

Por Rosane Gonçalves e Fellype Moreira

O podcast parceiro das professoras e professores da educação infantil de todo o Brasil.

Alfabetização Descomplicada
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